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- Não! - Disse Nia severamente. - Não podemos adiar mais.
- Não me vou casar com um estranho. Não quero - insisti.
- Ilnarah, já tivemos esta conversa. É a única solução e tu sabe-lo.
- Sei que é apenas um palpite de possível e horrivel solução. Quer dizer, como é que um casamento entre mim e um tal filho qualquer de um outro conde qualquer de uma qualquer outra terra nos vai ajudar? - Questionei, mais em forma de protesto e revolta do que propriamente dúvida. - Quer dizer, como é que isso vai salvar alguém? Quanto mais o mundo.
- As coisas mudaram Ilnarah - disse Nia, segurando-me no rosto e fazendo-me parar de andar de um lado para o outro. A sua voz aproximava-se cada vez mais do sussurro, como se receasse que o simples facto de mencionar o mal o trouxesse mais depressa até nós. - O horizonte escureceu. O mal aproxima-se e sozinhos não temos hipótese de sobreviver. Precisamos de unir esforços, de toda a ajuda possível.
Suspirei.
Encarei o chão.
Sentia-me cada vez mais encurralada. Percebia o que Nia queria dizer, e ao mesmo tempo não percebia. Não percebia como é que todos se limitavam a esse tipo de soluções tão... primitivas.
- Não queria que fosse assim - continuou, obrigando-me a encara-la.
- Não estamos sozinhos. Leanne e Sheeb já são casadas - "e por sorte com pessoas que amam", pensei para mim, desejando tal sorte. - Não estamos sozinhos. Já temos dois reinos para nos ajudarem. E certamente que também eles terão mais aliados, que os vão ajudar. E visto que eles nos ajudam estamos protegidos. Que diferença é que faz mais um?
- Pode fazer toda a diferença.
- "Pode" ... - Repeti.
Nia olhou-me nos olhos. Beijou-me na testa e saiu, deixando-me sozinha no quarto.
Percebi que não havia nada a fazer. Pelo menos nada que eu estivesse a ver no momento.
Olhei pela janela com vista para o bosque e saí do quarto. Saí de casa. Saí pelos portões que nos cercavam e corri. Corri para o bosque.
Corri até os meus músculos não poderem mais. Mas mesmo assim eu corri. E continuei a correr.
Parei.
Fechei os olhos por um momento e tentei controlar a respiração. Ofegante, olhei à volta do meu campo de visão. Podia ver e ouvir os pássaros e as árvores. Lá ao longe estava um pequeno grupo de veados a passar naturalmente. Aqui e ali um esquilo. E lá ao perto, o rio a correr.
Dei meia volta, sem tirar os olhos do horizonte. Tornava-se cada vez mais escuro até que, atrás de mim, era negro.

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