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Adoro animais!
Aliás, adoro a Natureza e a sua esplêndida e brilhante imaginação. Fascina-me! Não só pela imensidão de sensações capaz de nos transmitir, como também pelos companheiros que podemos encontrar.
O cão é sem dúvida dos meus animais preferidos. É incrível como conseguem ser-nos mais fiéis do que nós mesmos! ... Escusado será falar dos outros...
Raramente acredito no acaso, se é que alguma vez acontece, e por isso desde o dia em que encontrei o Ionadh, o cachorro, que estou convencida de que não foi por acaso.
E não foi, de facto.
Ionadh foi como ... ... ... uma mudança na minha vida.
Algo que nem a minha mais profunda criança interior com a sua inimaginável imaginação poderia algum dia imaginar.

Quando encontrei o cachorro à entrada do bosque não me queria afeiçoar a ele mas... Pergunto, será isso possível?

De início tentei fazê-lo, e tentei encontrar o dono.
Fiz um desenho dele (outra das minhas paixões, o desenho) numa folha e percorri o maior número de famílias que consegui. Mas ninguém parecia alguma vez tê-lo visto. Facto um pouco estranho, a meu ver, dado que normalmente na comunidade se sabe tudo... Às vezes até demais.
Ninguém o conhecia nem ninguém o procurou. Por isso, passadas duas semanas, dei-lhe um nome.
Já estava comigo há um mês e meio. E rapidamente se tornou um verdadeiro amigo e companheiro.
Até presenciou um dos mais esperados (de certo não por mim!) momentos dos últimos tempos: o dia em que eu e o meu suposto futuro ... ahm ... marido ... íamos ser apresentados.
Pfff... Fácil de imaginar o meu entusiasmo!
Mas não me sentia tão mal nem tão sozinha e incompreendida agora que tinha Ionadh do meu lado.
Numa manhã quente e solarenga de fim de Primavera, eu e a minha família esperávamos pelos convidados.
A casa estava arrumada e limpa ainda de fresco. A mesa da sala de jantar posta com dois lugares a mais e todos vestiam roupas mais formais do que num dia normal. Eu inclusive, obviamente contrariada. Não conseguia partilhar do entusiasmo de nenhum deles, e para meu grado Ionadh partilhava da mesma opinião que eu, arrancando-me finalmente um sorriso.
Também ele tinha sido sujeito a um banho perfumado e estava trancado dentro de casa para não se sujar ... ou à casa, suponho.
Deitado no chão ao lado dos meus pés, levantou subitamente a cabeça e começou a correr e a ladrar em direcção à entrada. Subiu a um banco e espreitou pela janela.
Sempre curioso!
Percebemos que deviam estar a chegar, e também nós começamos a ouvir o som da carruagem e o trotar dos cavalos sobre o chão de pedra.
O meu pai levantou-se, muito entusiasmado e com um enorme sorriso a brilhar-lhe no rosto, e ajeitou as roupas.
Eu contentei-me em revirar os olhos.
- Robert - chamou o meu pai.
O mordomo fez-lhe sinal com a mão, dando a entender que não precisava de dizer mais nada.
Aproximou-se da porta e segurou o puxador pacientemente à espera que os convidados se aproximassem.
Abriu-a.
- Sejam bem vindos à casa Klein, família Seidel - cumprimentou Robert.
- Muito bom dia - respondeu um senhor não muito alto, com uma barriguinha arredondada e com um sorriso simpático, que supus ser o pai do rapaz que o acompanhava.
- Façam o favor - e apontou para dentro.
- Muito obrigado - respondeu o senhor.
Entraram.
Robert recolheu-lhes os casacos e o chapéu do senhor baixinho e colocou-os no bengaleiro.
- Podes ir Robert - disse o meu pai à medida que se aproximava deles. - Eu trato dos nossos convidados. Ramon Klein - cumprimentou sorridente com o braço esticado.
- Charles Seidel - apresentou-se o senhor correspondendo ao aperto de mão. - E este é o meu filho, Colin.
- Ah! Prazer em conhecer-te meu rapaz - e cumprimentou-o da mesma forma. E desta vez já podia olhar em frente. Ele e o rapaz eram quase da mesma altura.
Colin mostrou um pequeno sorriso, que não me convenceu.
- O prazer é meu - respondeu.
Ao contrário do pai, Colin era alto e muito elegante, de cabelo liso com alguns centímetros e escuro como carvão, olhos do mesmo tom e pele clara.
Apesar de tudo, não podia negar a sua beleza.
- Venham. Por aqui - e seguiram na nossa direcção. Senti-me subitamente nervosa e todas nos levantamos. Ionadh já estava outra vez ao meu lado, depois de ter cheirado os convidados. O meu pai apresentou as minhas irmãs e Nia primeiro, e eu por último. - E por fim, e o motivo da vossa presença, a minha filha Ilnarah.
Tentei forçar um sorriso.
Charles deu-me um beijo na mão, muito sorridente e com aquele bigode farfalhudo e acinzentado a fazer-me comichão, e a seguir foi a vez do filho. Mas ao contrário do pai ele estava muito sério a olhar para mim, o que fez desaparecer o meu sorriso novamente.
O que honestamente até foi um alívio. Devia estar ridícula, e já me doíam as bochechas!
O meu pai aproveitou o almoço para conhecer melhor a família Seidel, principalmente Colin.
Eu agradeci por ninguém se dirigir a mim e por não ter tido de falar com ninguém.
Mas no final do almoço fomos para o terraço e os nossos pais tiveram a brilhante ideia de nos sugerirem um passeio a sós pelos nossos terrenos. "Mas à nossa vista. Terão muito tempo para estarem a sós depois", riam eles. Nenhum de nós correspondeu ao entusiasmo.
Sem o conhecer, gostei dessa reacção da parte de Colin.
Começamos a andar em direcção aos jardins, com Ionadh a correr à nossa frente, obviamente feliz por se ver em liberdade e deixar o pelo castanho brilhante ligeiramente comprido esvoaçar ao vento.

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