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Caminhei lentamente, prezando aquele momento de puro prazer. O facto de ter sido forçada a ficar em casa deixou-me desesperada! Tão desesperada quanto os pobres animais que vivem em pequenas gaiolas.
A liberdade é algo que não pode ser excluído das nossas vidas. Todos devem ter esse direito. Fomos criados para assim ser: livres! Não devemos estar fechados entre muros, paredes ou grades...
Poucos da minha família entendem a minha maneira de ser. Sou uma jovem que adora a Natureza! Pertenço-lhe e, sem ela, nada sou... Eu tentaria explicar aquilo que sinto mas, por alguma razão que se encontra fora do meu alcance de percepção, não o consigo fazer. Apenas os que veneram a Natureza conseguem perceber a nossa relação.
Ionadh, por enquanto, é o único que me compreende.
Sorri-lhe e ele agitou freneticamente a cauda, avaliando-me com os seus brilhantes olhos.
- Sabes em que estou a pensar, certo? - Questionei.
Ionadh soltou um sonoro latido como resposta.
Todos dizem que ele "é só um animal". Que monte de tretas! Para mim é muito mais do que isso... Tornou-se meu amigo, meu confidente. Para ser considerado humano só lhe falta falar a nossa língua. Além disso, consegue ser muito mais inteligente do que muitos dos humanos que aqui vivem!
Continuamos a andar durante cerca de hora e meia.
Inesperadamente, aquela estranha intuição, de que algo de errado iria advir, reapareceu.
Ionadh ficou atento, farejando o solo de vez em quando, com as suas orelhitas erguidas. Olhei em volta, nervosa.
- Também sentes que algo está diferente. - Comentei.
Lançou-me um rápido olhar e continuou a farejar, confirmando as minhas suspeitas.
- Vá, vamos por outro lado. Hoje não estou muito tentada a ir por aí.
Sendo assim, voltamos para trás.
Os meus olhos fixaram-se num estreito caminho à direita.
Avaliei-o.
Tinha o solo repleto de folhas, como se usufruísse de um tapete macio e apelativo.
Estranho... Nunca o tinha visto, apesar das inúmeras vezes que por ali passei.
Naquele preciso momento, fiquei num inquietante dilema: explorar aquele caminho desconhecido ou ir até ao lago.
Como sempre, a minha curiosidade venceu.
- Bom, Ionadh, que poderá correr mal? Já não é a primeira vez que seguimos um caminho diferente e até agora nada de mal nos aconteceu. - Disse, olhando para ele. - Por isso, vamos lá, Ionadh. Temos um novo sítio para explorar.
Já caminhávamos há meia hora, deslumbrados com aquela nova e colorida paisagem, quando descobrimos uma bela clareira.
Ionadh saltitou alegremente e foi-se estender numa pedra que estava no meio de flores silvestres. Juntei-me a ele, deitando-me na erva verdejante, um pouco mais longe.
Durante vários minutos, fiquei a contemplar o claro azul do céu, enquanto que Ionadh dormitava. O chilrear de pequenas aves aperfeiçoavam a serenidade daquele singular local.
Tudo estava perfeito.
Pelo menos até um ameaçador silêncio atingir a floresta.
Ionadh rapidamente se colocou a meu lado, de forma protectora.
Pareceu-me ver uma sombra pelo canto do olho. Sentei-me e percorri toda a clareira com o olhar. Tudo parecia estar normal, excepto aquele silêncio constrangedor. Pouco tempo depois, uma nova sombra surgiu mas, desta vez, no lado oposto.
Ionadh começou a rosnar, examinando diversos lugares.
Instintivamente, comecei a correr, com ele no meu flanco. Várias sombras apareciam e desapareciam do nosso campo de visão.
Pesados passos revelavam que algo começou a perseguir-nos.
Corríamos sem parar e, mesmo assim, não desistia.
No momento em que passávamos junto a um desfiladeiro de cerca de sete metros, que terminava no rio, olhei de relance para trás.
Maldita a hora em que o fiz!
Escorreguei e rebolei velozmente por aquela ribanceira.
Antes de cair na água gelada, bati com a cabeça numa rocha, perdendo os sentidos.
E é a partir daí que não me lembro de mais nada...

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