Nos sonhos o tempo corre de forma
diferente, a realidade que nos cerca é estranha e parece não passar de uma
simples ilusão, mas a verdade é outra…
Poucos da minha família entendem a minha maneira de ser. Sou uma jovem que adora a Natureza! Pertenço-lhe e, sem ela, nada sou... Eu tentaria explicar aquilo que sinto mas, por alguma razão que se encontra fora do meu alcance de percepção, não o consigo fazer. Apenas os que veneram a Natureza conseguem perceber a nossa relação.
Todos dizem que ele "é só um animal". Que monte de tretas! Para mim é muito mais do que isso... Tornou-se meu amigo, meu confidente. Para ser considerado humano só lhe falta falar a nossa língua. Além disso, consegue ser muito mais inteligente do que muitos dos humanos que aqui vivem!
Querida Ilnarah,
Nunca me vi como grande florista, mas foi com grande prazer e vontade que lhe colhi estas flores. Tive esperança que, de alguma forma, a ajudassem a atravessar essas quatro paredes.
Espero que se sinta melhor e que recupere o mais depressa possível. Saberá que tem de ser paciente. Por isso talvez seja melhor nem pensar no tempo. Talvez assim ele lhe pareça mais apressado. Afinal, é quando mais o apreciamos que ele se esconde, não é verdade? Pelo menos, assim parece.
Devo-lhe um enorme pedido de desculpas. E espero que o aceite. Temo que seria uma culpa maior se nenhum de nós o fizesse.
E assim me despeço, com a culpa a pesar-me por a ter privado da liberdade do exterior que tanto aprecia.
Desejo-lhe, uma vez mais, as melhoras e... veja se se despacha a vir cá para fora! A floresta tem saudades suas. Oh! E também lhe deseja as melhoras.
Quando encontrei o cachorro à entrada do bosque não me queria afeiçoar a ele mas... Pergunto, será isso possível?
De início tentei fazê-lo, e tentei encontrar o dono.
Fiz um desenho dele (outra das minhas paixões, o desenho) numa folha e percorri o maior número de famílias que consegui. Mas ninguém parecia alguma vez tê-lo visto. Facto um pouco estranho, a meu ver, dado que normalmente na comunidade se sabe tudo... Às vezes até demais.
Ninguém o conhecia nem ninguém o procurou. Por isso, passadas duas semanas, dei-lhe um nome.
Já estava comigo há um mês e meio. E rapidamente se tornou um verdadeiro amigo e companheiro.
Até presenciou um dos mais esperados (de certo não por mim!) momentos dos últimos tempos: o dia em que eu e o meu suposto futuro ... ahm ... marido ... íamos ser apresentados.
Pfff... Fácil de imaginar o meu entusiasmo!
Mas não me sentia tão mal nem tão sozinha e incompreendida agora que tinha Ionadh do meu lado.
Numa manhã quente e solarenga de fim de Primavera, eu e a minha família esperávamos pelos convidados.
A casa estava arrumada e limpa ainda de fresco. A mesa da sala de jantar posta com dois lugares a mais e todos vestiam roupas mais formais do que num dia normal. Eu inclusive, obviamente contrariada. Não conseguia partilhar do entusiasmo de nenhum deles, e para meu grado Ionadh partilhava da mesma opinião que eu, arrancando-me finalmente um sorriso.
Também ele tinha sido sujeito a um banho perfumado e estava trancado dentro de casa para não se sujar ... ou à casa, suponho.
Deitado no chão ao lado dos meus pés, levantou subitamente a cabeça e começou a correr e a ladrar em direcção à entrada. Subiu a um banco e espreitou pela janela.
Sempre curioso!
Percebemos que deviam estar a chegar, e também nós começamos a ouvir o som da carruagem e o trotar dos cavalos sobre o chão de pedra.
O meu pai levantou-se, muito entusiasmado e com um enorme sorriso a brilhar-lhe no rosto, e ajeitou as roupas.
Eu contentei-me em revirar os olhos.
- Robert - chamou o meu pai.
O mordomo fez-lhe sinal com a mão, dando a entender que não precisava de dizer mais nada.
Aproximou-se da porta e segurou o puxador pacientemente à espera que os convidados se aproximassem.
Abriu-a.
- Sejam bem vindos à casa Klein, família Seidel - cumprimentou Robert.
- Muito bom dia - respondeu um senhor não muito alto, com uma barriguinha arredondada e com um sorriso simpático, que supus ser o pai do rapaz que o acompanhava.
- Façam o favor - e apontou para dentro.
- Muito obrigado - respondeu o senhor.
Entraram.
Robert recolheu-lhes os casacos e o chapéu do senhor baixinho e colocou-os no bengaleiro.
- Podes ir Robert - disse o meu pai à medida que se aproximava deles. - Eu trato dos nossos convidados. Ramon Klein - cumprimentou sorridente com o braço esticado.
- Charles Seidel - apresentou-se o senhor correspondendo ao aperto de mão. - E este é o meu filho, Colin.
- Ah! Prazer em conhecer-te meu rapaz - e cumprimentou-o da mesma forma. E desta vez já podia olhar em frente. Ele e o rapaz eram quase da mesma altura.
Colin mostrou um pequeno sorriso, que não me convenceu.
- O prazer é meu - respondeu.
Ao contrário do pai, Colin era alto e muito elegante, de cabelo liso com alguns centímetros e escuro como carvão, olhos do mesmo tom e pele clara.
Apesar de tudo, não podia negar a sua beleza.
- Venham. Por aqui - e seguiram na nossa direcção. Senti-me subitamente nervosa e todas nos levantamos. Ionadh já estava outra vez ao meu lado, depois de ter cheirado os convidados. O meu pai apresentou as minhas irmãs e Nia primeiro, e eu por último. - E por fim, e o motivo da vossa presença, a minha filha Ilnarah.
Tentei forçar um sorriso.
Charles deu-me um beijo na mão, muito sorridente e com aquele bigode farfalhudo e acinzentado a fazer-me comichão, e a seguir foi a vez do filho. Mas ao contrário do pai ele estava muito sério a olhar para mim, o que fez desaparecer o meu sorriso novamente.
O que honestamente até foi um alívio. Devia estar ridícula, e já me doíam as bochechas!
O meu pai aproveitou o almoço para conhecer melhor a família Seidel, principalmente Colin.
Eu agradeci por ninguém se dirigir a mim e por não ter tido de falar com ninguém.
Mas no final do almoço fomos para o terraço e os nossos pais tiveram a brilhante ideia de nos sugerirem um passeio a sós pelos nossos terrenos. "Mas à nossa vista. Terão muito tempo para estarem a sós depois", riam eles. Nenhum de nós correspondeu ao entusiasmo.
Sem o conhecer, gostei dessa reacção da parte de Colin.
Começamos a andar em direcção aos jardins, com Ionadh a correr à nossa frente, obviamente feliz por se ver em liberdade e deixar o pelo castanho brilhante ligeiramente comprido esvoaçar ao vento.
Era um dia normal, numa manhã normal. Tudo parecia perfeito! Na verdade, até ao momento, tudo estava óptimo!
Contudo, para se perceber do que falo, tenho que explicar o que sucedeu anteriormente.
O meu nome é Ilnarah, uma jovem adolescente que vive em FourWinds, um reino muito longe de tudo o que é conhecido. Sou de uma nobre família, muito influente neste reino. O meu pai, conde Ramon criou-me sozinho, assim como às minhas três irmãs, Leanne, Sheeb e Willie. A nossa mãe, Althea, faleceu dois anos após a minha irmã mais nova nascer, a pequena Willie. Apesar de todos os contratempos vividos, somos uma família e, sobretudo, somos felizes. Temos algumas pessoas que nos ajudam com a casa, principalmente, quando o nosso pai decide percorrer o país para dar ajuda a quem necessita. Nia é como se fosse uma mãe para nós e, o facto de ter a idade que a nossa mãe teria se estivesse entre nós, faz-nos ser mais chegadas.
E aqui está uma pequena descrição dos nossos entes mais queridos.
Agora, falemos de algo mais sério . . .
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