Parei.
Afinal eu ia para onde? Por onde?
Onde estava eu? Não fazia ideia…
E de repente lembrei-me. Raios!
Como me pude esquecer dele?
- Ionadh? – Chamei. – Ionadh? -
Olhei em redor, mas não havia sinais da sua presença.
Forcei-me a recordar o que se
passara antes. Como teria ido ali parar? Só me lembrava de ter caído... e… e… …
… … … Mais nada. Mas… eu estava encharcada. Caí no rio, aparentemente. E
aquelas estranhas personagens sinistras, esquisitas e … doidas … devem ter-me
resgatado.
- Oh não… Ionadh? – Insisti.
Comecei a correr. – Ionadh? Onde estás?
As minhas palavras pareciam
desvanecer-se naquela floresta profunda, e as lágrimas começaram a desfocar a
paisagem.
Não havia sinal dele. Nem na
floresta, nem no rio, nem na margem. Nada.
- Não! Não, não, não, não… -
chorava. Corria tão depressa que não distinguia nada em meu redor.
Senti pontadas na cabeça,
provavelmente no local onde tinha batido, e o mundo pareceu começar a cair em escuridão.
Cerrei os olhos e forcei-me por
continuar acordada. Não me permitiria sequer abrandar.
Mas inevitavelmente cambaleei até
cair e perder novamente os sentidos.
Senti-me despertar.
Abri os olhos lentamente para dar
de caras com um tecto em madeira. E do meu lado direito podia ouvir o crepitar
de uma lareira.
Sim, estava certa. Era uma
lareira. E eu estava deitada num sofá, com um cobertor. E numa mesinha de
centro entre mim e o fogo havia um copo de água.
Sentei-me lentamente. Olhei e
redor e, não vendo ninguém, dei uns goles.
- Ah! Acordaste – falou uma voz
rouca e velha.
Assustei-me e olhei para a
esquerda. Da porta surgiu um velho com um manto até aos pés e barbas cinzentas
até ao peito, do mesmo comprimento que o cabelo.
Olhei estupefacta. Seria louco? Um
psicopata, talvez… Oh meu Deus! Será que me queria engordar e pôr no espeto?
Ele riu. E as minhas suspeitas
aumentaram.
- Tens uma imaginação incrível, Ilnarah.
Encaminhou-se até à lareira para
compor o fogo.
Ele sabia o meu nome. Mas pior…
sabia o que eu tinha pensado. Como?
- Co… Como é que sabe o meu nome?
Olhou para mim, admirado.
- Ora… Conheço-te desde sempre.
Como não haveria de saber? Ajudei-te a vir ao mundo eras tu ainda uma alma. –
Sorriu. – Tu não querias muito vir, lembraste?
Sem me poder observar, sabia
perfeitamente que estava com cara de parva a olhar para aquele velho louco. Por
mais que me esforçasse, os meus músculos faceais congelaram. Não conseguia
fechar a boca.
Ele ficou sério.
- Ora, não me digas que não te
lembras – disse incrédulo e mais exaltado. – Pelas barbas de Merlin. Tu … Baaah
– barafustou de braços no ar.
Saiu da divisão e foi a resmungar
sozinho.
Ahm… certo…
- Oh não – disse baixinho. – Eu
devo estar morta. Estou a sofrer de alucinação pós-morte ou…
A cabeça dele apareceu novamente
na porta e fez-me pular de susto.
- Não estás nada morta! –
Resmungou imediatamente, de sobrolho franzido.
Voltou a desaparecer da minha
vista. Mas podia ouvi-lo resmungar do outro lado das paredes de madeira e
pedra.
Subitamente senti uma estranha
vontade de sorrir, e talvez rir, com aquele velho.
Ele voltou com um copo de leite e
bolachas de mel.
- Toma. Come. Se quiseres. Se não
quiseres deixa ficar. Os ratos comem - resmungou. Sentou-se num cadeirão ao
lado do sofá onde eu me encontrava e acendeu um cachimbo. Começou a fumar. –
COMO RAIO É QUE NÃO TE LEMBRAS?
Assustei-me.
- Bem, eu…
- Baaaah – repetiu.
- Olhe – comecei. Senti que devia explicar a minha
situação. - Eu estou muito confusa.
- Isso não é desculpa para não te lembrares de mim.
Agora começava a achar o velhote engraçado. Mas tentei
não me rir.
- Não sei onde estou, ou o que se passa. Desmaiei duas
vezes hoje. Perdi o meu melhor amigo…
- Está lá fora a caçar moscas – interrompeu.
- E… - parei. O que é que ele disse?
- Mas antes de ires ter com ele, vamos conversar –
disse num tom de ordem. Não me atrevi a ripostar. – Ilnarah. Não estás propriamente no teu mundo.
- Como assim?
- Estás no teu mundo, mas não naquele ao qual estás acostumada. Talvez o
vás reconhecendo à medida que o percorres. E talvez te vás lembrando de alguns
de nós. Costumas vir cá de vez em quando, enquanto dormes. E depois pensas que
não passamos de sonhos.
- Mas… “nós” quem?
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